domingo, 17 de outubro de 2010

O Jovem Xiao


  Título/Title: O Jovem Xiao  (Young Xiao) 
  Ano/Year: 2010 
  Técnica/Technique: Mista s/ tela (Mixed Media on canvas)
  Dimensão/Dimension: 80x60 
  Autor/Author: Fernando Serrano
  Preço/Price: contact me 
  Materials: Acrylic, varnishes, paper, china clay, 
                 tissue and canvas  


Na universalidade do encontro de povos e culturas, tão presente nos tempos que correm, esta é a história do jovem Xiao. Menino chinês de quinze anos que vivia numa aldeia agrícola, plantada de arrozais,  perto de Xiaoxian. Um adolescente que ainda brincava com pequenos barcos de madeira e bambu construídos por si.
Poderia ser uma história tão banal como tantas outras não fosse um certo dia, num desses arrozais onde ajudava os seus pais, encontrar uma folha ao vento. Recorte de jornal com a foto de uma cidade cheia de canais e onde as pessoas falavam uma língua estranha.
Um sonho cresce então. Guarda essa folha e todos os dias imagina o seu barco de madeira e bambu a navegar nesses canais.
Poupa algum dinheiro de recados que faz e, sem saber como, resolve ir ao encontro dessa cidade no velho continente.
Deixa tudo o que conhece, todos os que ama, e percorre várias vilas, cidades e aldeias, de autocarro ou boleia ou mesmo apenas a pé. Quando o dinheiro acaba volta a parar por alguns dias e qualquer ocupação lhe serve para até Xangai chegar.
Cidade enorme e cheia de oportunidades de aprender e ganhar. Aí, volta a ter que trabalhar para juntar dinheiro e poder finalmente voar.
Encontra um velho restaurador que o acha dedicado e fiável. O idoso artesão chama-lhe apenas Xiao.
Uma nova amizade cresce então. Ensina-lhe os passos dessa nobre arte até ao dia em que o jovem aldeão pensa ter o valor necessário para o ansiado bilhete.
O voo mais barato que consegue para fora da milenar China é através da Aeroflot, que o leva até Moscovo. Voar é nesse instante a palavra emoção.
Na capital russa tem o primeiro choque cultural e linguístico da sua curta existência. A vida em Moscovo não é fácil e torna-se ainda mais difícil para quem nada tem. Dorme onde pode e come o pouco que consegue. Deambula durante algumas semanas e acaba por ser recolhido por um curioso moscovita.
Ao conhece-lo melhor, o homem convida-o a ficar e propõe-lhe emprego. Volta a trabalhar, desta vez como carpinteiro e ajudante desse pintor russo de renome e que procurava alguém com a curta mas sábia experiência de Xiao.
Aprende mais um pouco da velha arte e começa a aprecia-la. Inicia também a pintura, tendo uma enorme criatividade e subtil destreza na ponta dos seus pincéis. Aprende russo e inglês. Começa então a chamar-se a si próprio de O Jovem Xiao.
Mas o sonho comanda a vida e um ano passado entende que chegou o momento. Compra o bilhete aéreo para Amesterdão, para si e para o seu barco de madeira e bambu. A criança ainda estava viva dentro de si.
Chega à cidade dos canais de noite. Consegue abrigo em Chinatown, entre o templo budista e a mais famosa cantina chinesa, e anseia pela manhã sem conseguir dormir.
Ao nascer do sol pega no seu barco de madeira e bambu e percorre as ruas com um passo rápido e miúdo. Apenas se detém ao encontrar uma das margens do rio. Desce as escadas e retira do bolso o recorte de jornal. Contempla o instante e por fim todo o seu ser sorri ao colocar o barco de madeira e bambu nas águas do sonhado rio Amstel. Dezoito longos meses depois o seu sonho seria realizado!
Sei que continuou por Amesterdão dedicando-se às artes, conseguindo abrir um espaço cultural para si e para a sua nova companheira, jornalista de viagens por sinal… Será este um novo sonho?!
FerdoS